terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Desconstrutivismo - Estruturalismo, pós-estruturalismo e arquitetura

Para entender o desconstrutivismo
Estruturalismo, pós-estruturalismo e arquitetura

Por Sílvio Colin



Casa em Connecticut. Robert Venturi, 1970, imagem VSBA
De uma maneira ampla, podemos falar de estruturalismo toda vez que um objeto de conhecimento é encarado como uma estrutura. Essa prática foi saudada como um passo adiante da visão mecanicista do mundo, segundo a qual esse objeto era encarado como uma máquina. Consideramos que foi a partir do século 17, com Descartes, Galileu e depois com Newton que o modelo da máquina se tornou o orientador do pensamento científico. Na física newtoniana, o universo era considerado uma grande máquina, e os astros, suas peças. Na física atômica, o átomo seria a microrrepresentação do universo, uma minúscula máquina. Na medicina e na biologia, o corpo humano e os outros organismos também seriam máquinas, os órgãos, suas peças. No âmbito da arquitetura, mais recentemente, lembremos da "máquina de morar" de Le Corbusier. O modelo da máquina foi o principal orientador do pensamento moderno, e podemos dizer que a ele devemos muito do que se conseguiu em termos de conhecimento científico. Apesar disso, esse modelo tem suas limitações, e essas apareceram com muita clareza já no século 19.

Desconstrução do plano horizontal
As limitações começam pela determinação de que para o estudo eficiente dos corpos materiais deve o estudioso ater-se às suas propriedades mensuráveis: dimensões, quantidades e movimento. Obviamente que muitas coisas não se explicavam segundo a visão mecanicista. Todas as vezes que se lidava com objetos de conhecimento mais difíceis de mensurar, como nas ciências sociais, psicologia etc. as limitações se tornavam claras e insuperáveis.
A visão estruturalista começa com a constatação de que o todo é mais do que a soma de suas partes. Dito em outros termos, um conjunto individualizado, seja um grupo social, a mente humana, a língua falada etc. é uma estrutura com características próprias e que em muito excede as de suas partes consideradas em particular ou mesmo em conjunto. A diferença entre a visão estruturalista e a visão mecanicista é a ênfase colocada nos elementos estruturantes, e não nas partes componentes. 

Para entender bem a posição dos estruturalistas, falemos de um argumento clássico: uma melodia. Esta é composta de notas musicais, mas o estudo isolado dessas notas, por mais acurado que seja, não esclarece nada sobre a melodia. É o estudo do conjunto e de seus elementos estruturantes, das sequências, das ênfases, das posições relativas das notas entre si, que vão permitir o entendimento dessa melodia.

Sede da Corporação Nunotani, Tóquio, 1990-2, Peter Eisenman
Para o estruturalista, o seu objeto de estudo é visto como um sistema em transformação. Daí surgem as leis básicas do método estrutural. Em primeiro lugar, a definitiva conceituação de sua totalidade: quais são os elementos constituintes que, apesar de suas diferenças, pertencem a essa totalidade. Em seguida, quais são as leis que regem as suas transformações dentro desse sistema e, por fim, quais são os critérios de autorregulamentação, isto é, quais são as possibilidades de variação e transformação admitidas dentro do sistema.
Existem estruturas em todos os campos do conhecimento: na matemática, na física, na biologia, na psicologia, na linguística, na antropologia. Muitas das obras marcantes do conhecimento ocidental atual podem ser ditas estruturalistas, como a obra de Karl Marx e a psicologia da Gestalt.


Desconstrução do ponto de vista
Estruturalismo
De uma maneira mais restrita, porém, quando falamos de estruturalismo nos referimos à vertente dominante do pensamento acadêmico francês, sobretudo nos anos de 1960 e 1970, que têm como nomes mais importantes Claude Lévi-Strauss, Louis Althusser, Michel Foucault, Roland Barthes e Jacques Lacan. O ponto de partida do que poderemos chamar, mais do que um método, uma corrente filosófica, que viria a substituir nos meios acadêmicos a hegemonia do existencialismo de Jean Paul Sartre, é a obra de Ferdinand de Saussure.


Diferentemente de seus pares, o linguista suíço encarava a língua como uma estrutura de signos - especificamente signos linguísticos - mas que fariam parte de uma estrutura maior, do conjunto de signos que participam da vida social, nomeado por ele de semiologia, cujo estudo delegou a seus sucessores, concentrando-se apenas na língua, sobretudo a língua falada. Sem ter jamais escrito um livro, tarefa que coube a seus discípulos, Saussure elaborou conceitos de enorme relevância para as novas gerações de linguistas, inclusive utilizados em outras áreas do conhecimento, como veremos adiante.

Contraste entre a Basílica do Santo Espírito. Florença, 1434-82, Filippo Bruneleschi; e o Denver Art Museum. Colorado, 2006. Daniel Libeskind
Contraste entre a Basílica do Santo Espírito. Florença, 1434-82, Filippo Bruneleschi; e o Denver Art Museum. Colorado, 2006. Daniel Libeskind
Entre esses conceitos está a fundamentação do signo em duas faces: significante e significado. O significante é a parte material do signo - no caso da língua falada, o som da palavra -, e o significado é a ideia transmitida. Outra divisão importante é aquela entre língua e fala (langue e parole), sendo a língua um produto cultural, que não pode ser alterado por ações individuais. A fala é um produto individual, expressão de pensamento único, porém submetido às leis que regem a língua.

Sistema cartesiano de eixos ortogonais
Outras peças importantes na obra original de Saussure, fundamentais para o desenvolvimento da semiologia, são suas diferenciações entre sistema e sintagma e entre denotação e conotação. O sistema é uma relação de campos associativos que se unem por semelhança ou contiguidade. São os termos da linguagem, as peças do vestuário, as diferentes formas de telhados ou colunas. O sintagma é a justaposição de termos em uma unidade de significação - uma sentença literária, uma vestimenta completa, uma ordem arquitetônica, por exemplo. Denotação é o significado primeiro de uma manifestação, o mais objetivo, o mais manifesto; conotação é um significado segundo, latente, dessa mesma manifestação. Uma simples sentença como "a porta está aberta", que tem apenas uma denotação, pode servir, dependendo de quem fala, o porteiro ou a dona da casa, ou do contexto, a uma infinidade de conotações.
Se podemos dizer que Marx e Freud construíram as obras que mais influenciaram o pensamento do século 20, e que Lacan fez a releitura estruturalista de Freud, coube a Louis Althusser a contraparte estruturalista de Marx. Mestre de grandes estruturalistas e pós-estruturalistas, como Foucault e Derrida, Althusser aplicou a Marx o método de "leitura atenta" que seria o princípio ativo da "desconstrução" utilizada por Derrida, enfatizando alguns aspectos não explícitos, porém latentes na obra de Marx, e definindo a sociedade como uma estrutura relacional de política econômica, prática ideológica e prática político-legal.


Pós-estruturalismo e arquitetura
O Ateneu, New Harmony, Indiana, Estados Unidos, 1978-9, Richard Méier; e o conjunto residencial IBA, Berlim, 1987-94, Zaha Hadid - exemplos de desconstrução dos eixos cartesianos
Chamamos de pós-estruturalismo a corrente de pensamento ligada atavicamente ao estruturalismo e empreendida por pensadores formados sob as ideias que acabamos de expor, mas que se adiantam sobre elas. Correndo o risco da imprecisão que costuma ladear as simplificações, diremos que o estruturalismo preocupa-se em estabelecer os padrões da análise estrutural, e falamos de pós-estruturalismo quando os temas são ampliados e o método estrutural começa a ser flexibilizado e a abranger a cultura do século 20 como um todo, e seus conceitos estruturantes - a maior parte advinda do pensamento iluminista - são revisitados e desconstruídos, para usar um termo tipicamente pós-estruturalista criado por Jacques Derrida.
O termo "estrutura" é muito caro para a arquitetura, e a metáfora arquitetônica há muitos séculos se faz presente nos textos filosóficos, em Platão, Descartes, Kant. Pode mesmo causar certa confusão o uso dessa palavra na cultura arquitetônica atual, pois pode tanto referir-se à conjunção de vigas, pilares e lajes quanto à tradição linguística de que estamos falando.
Uma abordagem estruturalista (no sentido da tradição saussureana) tem sido levada a efeito na arquitetura a partir dos anos de 1960 por arquitetos e críticos como Venturi e Jencks, buscando construir a malha estrutural resultante do rebatimento dos conceitos linguísticos para a produção e a crítica arquitetônica. Mais recentemente, a colaboração de Jacques Derrida com Peter Eisenman e Bernard Tschumi, iniciada por ocasião do concurso para o projeto do parque La Villette, em 1982, coloca no plano teórico da arquitetura as legítimas questões relacionadas com a crítica cultural pós-estruturalista. Diria Derrida:
"Estes arquitetos estavam de fato desconstruindo a essência da tradição e criticando tudo que subordinava a arquitetura a outra coisa - o valor da utilidade ou beleza ou habitação etc. - não para construir algo que fosse inútil, feio ou inabitável, mas para liberar a arquitetura dessas finalidades externas, desses objetivos exóticos".
As "estruturas" manifestam-se de diversas formas na arquitetura e o modelo saussureano tem sido aplicado não somente na crítica da arquitetura atual, mas também do passado. Os correspondentes à "língua" saussureana, produto cultural inacessível à intervenção individual são os estilos históricos, as poéticas estilísticas etc. As "falas" são os discursos transmitidos pelas soluções individuais, tendo por objeto o espaço, o volume, a poética mural, os elementos arquitetônicos e suas articulações.
Uma maneira própria do pós-estruturalismo de trabalhar a desconstrução, muito adequada ao uso em arquitetura, são as formulações dos pares binários.
A desconstrução localiza certas oposições cruciais ou estruturas binárias de significado e valor que constituem o discurso da "metafísica ocidental". Estas incluem (entre muitas outras) a distinção entre forma e conteúdo, natureza e cultura, pensamento e percepção, essência e acidente, mente e corpo, teoria e prática, macho-e-fêmea, conceito e metáfora, fala e escrita etc. Uma leitura desconstrutiva vai provar que estes termos estão inscritos dentro de uma estrutura sistemática de privilégio hierárquico, como o fato de um membro de cada par sempre parecer ocupar uma posição governante ou soberana. A finalidade é demonstrar, por meio da leitura atenta, como este sistema está incompleto internamente: como o termo segundo ou subordinado de cada par tem igual (às vezes maior) aspiração de ser tratado como condição de possibilidade para o sistema inteiro.
Derrida trabalha frequentemente com esse método de leitura atenta sobre pares binários, sendo das mais importantes técnicas do que ele chama desconstrução. O método é bastante caro à arquitetura, pois sua produção está impregnada desses pares binários.
O Ateneu, New Harmony, Indiana, Estados Unidos, 1978-9, Richard Méier; e o conjunto residencial IBA, Berlim, 1987-94, Zaha Hadid - exemplos de desconstrução dos eixos cartesianos
A tradicional oposição entre estrutura e decoração, abstração e figuração, figura e fundo, forma e função, poderia ser dissolvida. A arquitetura poderia começar a procurar o "entre" dentro dessas categorias.
Essa "leitura atenta", essa desconstrução tem insistente presença no trabalho dos arquitetos pós-modernistas. É, por exemplo, o caso da casa em Connecticut, de 1970, de Robert Venturi. A questão do interior-exterior, colocada como um par binário, é questionada e subvertida. A suposta "frente" - não exatamente o ponto de acesso - tem um discurso assim elaborado com uso de simetria, estudo de cheios e vazios e demais recursos que somente valem para o observador externo. Aquele ponto de interesse principal é, na verdade, ocupado por uma cozinha; a parte nobre está do lado oposto.
Poderíamos citar inúmeros exemplos de trabalho desconstrutivo sobre pares binários "de significado e valor que constituem o discurso da 'arquitetura' ocidental", parafraseando Norris. Este foi, durante duas décadas, o principal trabalho dos arquitetos pós-modernistas sobre o questionamento de outro grande par estruturante, retirado do estruturalismo linguístico "clássico" - significante-significado. Assinalemos, pois, que, sob esse ponto de vista, o pós-modernismo arquitetônico é já um pós-estruturalismo.
Porém o que nos interessa no momento é estabelecer outro tipo de objeto de desconstrução menos afim com o trabalho meta-literário e crítico dos pensadores pós-estruturalistas e mais endógeno da arquitetura: outro tipo de conceito estruturante, particular do trabalho dos arquitetos, que cumpre a mesma função dos conceitos já mencionados, não mais nos textos, mas na elaboração de projetos - forma de "escrita" própria do arquiteto.
O pensamento do arquiteto tem sido formado por algumas estruturas das quais não se liberta a não ser mediante um grande esforço de "leitura atenta", de trabalho desconstrutivo. E esse trabalho se insere nesse mesmo projeto de desconstrução das tradições da cultura ocidental e partilha dos mesmos interesses.


O triedro mongeano, uma composição de Mondrian, 1924 - o universo neoplasticista regido por um sistema ortogonal
A linha e o plano horizontais, a linha e o plano verticais
É muito comum no trabalho dos arquitetos desconstrutivistas a quebra da relação essência-aparência no que se refere ao plano horizontal, ou plano de desempenho. A linha do horizonte e o plano do horizonte são talvez os mais importantes elementos estruturantes na concepção do projeto. Desde que nascemos, ao engatinharmos, ao observarmos uma paisagem, ao caminharmos tomamos consciência primeiramente do plano horizontal, mesmo que muitas vezes essa apreensão seja ilusória, como no caso das grandes perspectivas. A verdade é que ela faz parte de nossa ideia de mundo, e constitui-se em uma necessidade básica espacial.

Os arquitetos desconstrutivistas trabalham frequentemente com a desconstrução desse conceito, que associam a outros pares binários como interior-exterior, essência-aparência, etc. Trata-se também de um meio de exercer, por meio da arquitetura, uma crítica contundente do mundo atual, da vida atual, vistos pelos pós-estruturalistas sob o crivo da hiper-realidade e do simulacro. O mundo que vivemos é um mundo em que a imagem do real supera o real: as fotografias manipuladas, os factóides, as manipulações da opinião têm um poder de convencimento que substitui a "busca da verdade" iluminista. A ideia, no caso desses edifícios, é criar uma imagem facilmente recebida como falsa: um "real" que não pode ser real.

Supremus# 58, de Malevich, 1918: o universo suprematista com os objetos soltos no espaço
Semelhante ao plano e linha horizontais, o plano e linha verticais são estruturas básicas de nossa apreensão do mundo, ligadas à própria ideia de construir, de equilíbrio, de gravidade. Entre a infinidade de ângulos possíveis, a vertical e a horizontal determinam dois ângulos retos. O ângulo reto é o angle-type: um dos símbolos da perfeição.
Os arquitetos desconstrutivistas trabalham com linhas e planos inclinados, sobretudo em posição aparentemente instável, explorando as estruturas sólidas dos edifícios até o seu limite e representam a ideia de desafio da natureza, uma ideia iluminista em sua essência, mas deslocada para representar a instabilidade, a incompletude, a imperfeição e o desequilíbrio das próprias leis maquinistas e de seu mundo.


O "ponto-de-vista"
Desenho de Van Doesburg sobre a Casa Schröeder, 1924, e vista interna da obra de Gerrit Rietveld em Utrecht, Holanda, 1924 - o triedro mongeano representado na arquitetura
Uma das importantes criações do Renascimento, ponto de partida do mundo moderno, é a perspectiva, instrumento gráfico utilizado pelos pintores para a representação realista do mundo. Os arquitetos passaram a utilizá-la para dominar o espaço criado e orientar sua apreensão pelo usuário. A partir de então, e até o momento heróico do Movimento Moderno, a prospetiva renascentista passou a ser um recurso arquitetônico para apreender o espaço a ser criado.
A perspectiva como instrumento traz implícita a visão renascentista de mundo, o "olhar para frente", em oposição ao gótico "olhar para cima". O humanismo, o homem como centro. Mas traz também a ideia do ponto-de-vista único: sem ele não há perspectiva. E o ponto-de-vista está ligado à ideia de "sujeito", ideia essa cuja quebra é fundamental no projeto estruturalista. O "sujeito" cartesiano, livre e independente, não pode conviver com a ideia de estruturas que o antecedam, e muitas vezes governam seus mais simples pensamentos e ações. E a ideia de "ponto-de-vista" não pode conviver com a idéia da "diferença" trabalhada por Deleuze, Foucault e Derrida como fundamentais.



Desenho de Van Doesburg sobre a Casa Schröeder, 1924, e vista interna da obra de Gerrit Rietveld em Utrecht, Holanda, 1924 - o triedro mongeano representado na arquitetura
Os eixos ortogonais 
A geometria analítica parte do método cartesiano (1637) procurando localizar os pontos objetivos no espaço por meio de três eixos coordenados, ortogonais entre si. Independentemente de sua operatividade, representa, talvez, a mais forte referência do projeto iluminista. Ela nos traz não somente a figura de um instrumento matemático capaz de operar com figuras geométricas pela álgebra, mas também todo o esforço de reduzir o conhecimento à res extensa, àquilo que se pode medir. Descartes, com sua obra, foi um dos pontos de partida do racionalismo moderno. Os eixos ortogonais são uma referência poderosa, e raramente uma planta de edifício não ostenta essa ortogonalidade, muitas vezes explícita e intencional, mas na maioria dos casos um conceito estruturante apenas implícito, talvez o mais forte dos conceitos estruturantes do mundo moderno utilizado nos projetos arquitetônicos.
Talvez por isso mesmo, foi dos primeiros conceitos a ser atacado pelo projeto pós-estruturalista arquitetônico. Antes mesmo, já na primeira década do século 20, os artistas suprematistas, em oposição aos neoplasticistas (que aceitavam no seu mundo ideal o espaço figurativo regido pelos eixos ortogonais), propunham um espaço pictórico em que os objetos não seriam regidos por eixos coordenados, mas flutuariam no espaço. Os suprematistas são uma forte referência de muitos arquitetos desconstrutivistas como Rem Koolhaas e Zaha Hadid.



Wohl Center, Ramat-Gan, Israel, 2005, Daniel Libeskind - a desconstrução do tiedro mongeano
O triedro mongeano
A geometria descritiva, criada por Gaspard Monge e instrumento de trabalho mais utilizado pelos arquitetos desde sua criação no final do século 18, tornou possível a expansão da maquinaria na revolução industrial e contribuiu para o aperfeiçoamento das técnicas de projeto de edifícios. A partir de então, o projeto passou a ser completamente previsível, podendo ser visto de todos os ângulos, em vistas e seções, e elaborado com maior perfeição. O triedro mongeano, três planos hipotéticos, ortogonais entre si, formam a base do sistema projetivo arquitetônico desde a sua criação. Porém esse sistema não é apenas a base utilizada pelos arquitetos para projetar; permanecem representados no projeto, nas paredes e lajes de piso, como uma referência não somente ao sistema utilizado na projetação, mas trazendo à memória a cultura napoleônica, da revolução industrial, do mundo neoclássico, enfim do desenvolvimento final oitocentista do grande projeto moderno maquinista que ajudou a construir.
O sistema mongeano tem sido substituído por outros métodos, inclusive de computação gráfica, embora ainda seja fartamente utilizado, mas a representação dos três planos ortogonais permanece em nossos edifícios e cidades. Os arquitetos desconstrutivistas trabalham muitas vezes com a desarticulação desses planos criando uma instabilidade perceptiva que melhor representa nossa instabilidade emocional e funcional, nossa insegurança quanto ao futuro do projeto moderno.



Edifício Seagram, 1948, Mies van der Rohe, Nova York, um sólido geométrico puro
O sólido geométrico puro
Uma ideia semelhante à linha e ao plano horizontais ou verticais e que recupera o conceito cartesiano de ideias inatas, conceito este bastante estruturalista na sua essência. O cubo, o cilindro, o prisma, o paralelepípedo, a esfera, figuras ideais e fechadas, têm sido também figuras estruturantes do pensamento e das práticas projetuais arquitetônicas. Em poucos momentos na história da arquitetura os arquitetos pensaram em desobedecê-los. No período heróico do movimento moderno, a afirmação do sólido geométrico como princípio projetual torna-se mais claro ainda do que fôra anteriormente. Nas primeiras décadas do século 20, Jeanneret (Le Corbusier) e Amedee Ozenfant defendiam o uso de figuras puras na pintura. Em Teoria e projeto na primeira era da máquina, Reyner Banham cita Ozenfant e Le Corbusier (em Depois do Cubismo, ou Aprés le Cubisme): "...cubos, cones, esferas, cilindros ou pirâmides são as grandes formas primárias que a luz revela vantajosamente... estas são formas belas, as mais belas formas".
Veja-se como exemplo a Villa Savoye de Le Corbusier. Rejeitar as figuras puras como princípio projetual é rejeitar o próprio conceito de inatismo de Descartes, na busca da representação de um mundo não "racionalista", mas quem sabe mais humano e racional.

Max Reinrardt Haus, em Berlim, 1993, de Peter Eisenman - desconstrução do sólido geométrico
Aí estão portanto algumas figuras estruturantes, específicas do trabalho arquitetônico, e que correspondem aos pares binários estruturantes de Derrida. O arquiteto trabalha também com aqueles conceitos já citados, que ocupam os filósofos e críticos pós-estruturalistas. Diga-se de passagem, já trabalhavam com esses conceitos muito antes do termo desconstrutivismo frequentar as páginas de revistas e livros de arquitetura. Os pós-modernistas estavam ocupados em uma revisão das práticas características do movimento moderno. Mas essa crítica era bastante conceitual, focalizando a questão do ornamento, o anti-historicismo, a dessemantização, o funcionalismo, o antirregionalismo que haviam sido as bandeiras das vanguardas modernas do início do século 20.
Com a chamada arquitetura desconstrutivista, a crítica arquitetônica à velha sociedade industrial dá um salto de qualidade. Voltando ao início, e para usar termos extraídos do mais notório par binário criado por Ferdinand de Saussure, os assim chamados arquitetos pós-modernistas trabalhavam na desconstrução dos significados - a parte conceitual dos signos arquitetônicos, enquanto que os chamados arquitetos pós-estruturalistas, ou desconstrutivistas, trabalham com a parte material dos signos arquitetônicos, com os significantes, os elementos materiais - paredes, lajes, pilares, vigas, portas. É mais uma simplificação, incompleta e até mesmo discutível em certos aspectos, mas que pode ser perdoada por sua simplicidade didática, na medida em que ajuda até um determinado ponto a entender o pós-estruturalismo na arquitetura.
Nos dias atuais, a inocência se perdeu e a esperança de construir um mundo segundo o projeto moderno muito se enfraqueceu, como também suas representações. Quando conseguimos ver através da máscara da hiper-realidade com que a mídia reveste suas manifestações, o que vemos é­ um mundo para o qual as imagens da arquitetura desconstrutivista parecem até realistas.

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Confira o texto completo de Silvio Colin sobre estruturalismo e pós-estruturalismo.

BIBLIOGRAFIAVATTIMO. G. e P. A. ROVATTI. P. A. "Dialettica, differenza, pensiero debole" In: Il pensiero debole, Milão: Feltrinelli,1983. P. 12-28.
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Aprendendo com Las Vegas. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. Edição original de 1972.
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Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d'Água 1991. Ed original Simulacres et Simulation (1981)
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Aprés le cubisme.
BANHAM R.
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Vers une architectureBANHAM R. Teoria e projeto na primeira era da máquina. São Paulo, Perspectiva, 1979, p. 365.
Sílvio Colin é arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1970, mestre em arquitetura pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da FAU-UFRJ e cursa atualmente doutorado no mesmo programa. Leciona no departamento de projeto de arquitetura da FAU-UFRJ. É autor dos livros Uma introdução à arquitetura (2000) e Pós-modernismo: repensando a arquitetura(2004), ambos da editora Uapê, Rio de Janeiro.
Fonte: http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/181/imprime131095.asp

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Retrofit - A utilização de containers como moradia...




A reutilização de containers usados para outros fins que não seja transportar carga cresce nos Estados Unidos. Existem várias razões para isso. Primeiro porque é mais barato para uma companhia de navegação comprar novos containers do que transportá-los vazios de volta para casa, o que cria uma pilha de containers nos portos que construtores e reformadores de containers podem obter por preços baixos.
Além disso os containers são feitos de metal, o que faz com que fiquem firmes  onde são colocados, sem mencionar sua resistência à chuva, incêndio e outras  interpéries. Eles estão disponíveis numa grande variedade de tamanhos ( o mais comum sendo de 2,44 m de largura, 2,59 m de altura e 12,19 m de comprimento), o que os fazem ideais para casas ou escritórios modulares.







A utilização de containers como moradia tambem foi uma solução pratica pra resolver problemas de habitação no Brasil em algumas regiões...


(Foto: Divulgação/Prefeitura de Santa Maria)
Cada contêiner tem um quarto/sala e um banheiro
Cerca de 30 famílias que vivem em áreas de risco na região da Bacia Hidrográfica do Arroio Cadena, em Santa Maria (RS), vão morar temporariamente em contêineres adquiridos e adaptados pela prefeitura. Elas já estão sendo transferidas para esses locais.
Em todo o município, cerca de 2,7 mil famílias vivem em locais que sofrem com deslizamentos de terra e erosão. Os contêineres, que têm um cômodo que funciona como quarto e sala e um banheiro, servirão de moradias temporárias enquanto as casas são construídas em loteamentos.

Projetos

Container Loft - Lívia Ferraro e Lair Schweig

O projeto de 45 m² foi desenvolvido para a mostra Casa Cor Santa Catarina. A estrutura em caixas favorece a mobilidade: caso o morador precise se mudar, é só levar a casa junto. “O conteiner serve para quem tem vida dinâmica. São pessoas que podem mudar de cidade, alugar terrenos e até acoplar vários conteiners”, idealiza Lair. 


Nova York LOT-EK
A empresa de arquitetura de Nova York LOT-EK desenvolveu um protótipo para uma casa feita de containers, a Container Home Kit, que pode ser feita em vários tamanhos, aumentando o número de containers. Veja as imagens:







FONTES: theurbanearth.wordpress.com/2008/09/18/o-retrofit-de-containers-usados/
mulheresdo25.blogspot.com/2010/07/conteiner-loft.html
g1.globo.com/brasil/noticia/2010/04/familias-vao-morar-em-conteineres-no-rs.html
 Algumas empresas se especializaram em vender e reformar containers, como as norte-americanas Sea Box e American Mobile Office & Container.